O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos
(Bio-Manguinhos), do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), inaugurou hoje (9) o
Centro Henrique Penna - Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnóstico.
Essas três áreas independentes que funcionarão no novo centro têm funções
estratégicas, visando a apoiar toda a parte de inovação da cadeia de saúde no
Brasil, disse o diretor de Bio-Manguinhos, Artur Roberto Couto.
Segundo ele, o empreendimento vai fortalecer o complexo econômico-industrial de
saúde. O centro reúne áreas de produção de ingredientes farmacêuticos ativos
para biofármacos, uma área de protótipos e a primeira da América Latina,
destinada a fazer lotes clínicos e lotes pilotos para estudos clínicos,
ajudando a ainda a incipiente cadeia de inovação brasileira. O terceiro
laboratório é dedicado à reativação e produção de diagnósticos.
"Para o tratamento hoje, principalmente com biofármacos, é fundamental que
você tenha reativos para diagnóstico, marcadores como nós chamamos, para dar o
diagnóstico perfeito, a fim de fazer quase um tratamento personalizado",
disse Couto. Ele informou que essa será a primeira planta no Brasil na produção
de biofármacos em escala industrial, já em fase de oferecer produtos.
Na área de reativos para diagnóstico, serão produzidos teste sorológico para
Zika e teste molecular diferencial Zika/dengue/chikungunya, além de HIV e
outras doenças. A capacidade de produção alcança 20 milhões de reações por ano.
Na parte do teste sorológico para Zika, a demanda dada pelo Ministério da Saúde
gira em torno de 1 milhão de testes/ano. Esse teste já está certificado pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pode ser entregue para o
ministério, acrescentou o diretor. Para o teste molecular diferencial
Zika/dengue/chikungunya, a demanda é de 3 milhões de testes por ano.
Na área de biofármacos, Artur Couto informou que a capacidade, na plataforma de
células chinese hamster ovary (CHO), por exemplo, é atender a toda a demanda
das parcerias com o Ministério da Saúde. "Nós estamos falando, em
matéria-prima, da casa de alguns milhões de frascos de biofármacos. Mais de 14
milhões de frascos". Os produtos, entretanto, não são envasados no
laboratório, mas encaminhados a outro setor específico com essa finalidade,
observou.
Os investimentos na construção do novo centro foram de R$ 478 milhões, do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) e do Ministério da Saúde.
A área financiada pelo BNDES e pela Finep, que foi a de protótipos, não vai
atender somente à Bio-Manguinhos, mas a todas as demandas existentes no país
para inovação, na área de biológicos.
SUS
O Centro Henrique Penna vai beneficiar, principalmente, o usuário atendido pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), que depende de produtos, de biofármacos para
tratamento, de kits de diagnóstico e para ter uma resposta mais rápida.
"Na realidade, toda a nossa produção é voltada para o SUS", ressaltou
Couto. Segundo ele, na área de protótipos, a produção é voltada para a cadeia
de inovação, englobando universidades, centros de pesquisa, parceiros privados.
"Todos esses que trabalham com inovação serão de alguma forma beneficiados
ao dispor de área para fazer o seu trabalho".
O diretor de Bio-Manguinhos disse que haverá economia de recursos. "O novo
centro não pode ser olhado de forma isolada, mas no seu conjunto". Dentro
das Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que visam à incorporação de
tecnologia, Couto afirmou que o novo centro ajuda que isso ocorra de forma mais
rápida, "porque era, justamente, o elo que faltava para o país começar a
ter toda a produção nacional de biofármacos, desde a matéria-prima até o
produto final. Com isso, haverá uma economia enorme, porque um laboratório
público está produzindo, fornecendo e dando acesso, com preço muito mais
barato".
De acordo com dados divulgados por Bio-Manguinhos, o mercado internacional de
medicamentos biológicos cresce 12% ao ano, movimentando em torno de US$ 160
bilhões anualmente. No Brasil, o investimento do Ministério da Saúde na compra
de medicamentos subiu de R$ 6,9 bilhões para R$ 15,8 bilhões entre 2010 e 2015,
sendo que, desse total, 51% são destinados à compra de biológicos. Artur Couto
disse que o crescimento do mercado externo de biológicos, embora cause impacto
no SUS, é muito importante, porque traz condições de tratamento muito melhores
do que as existentes hoje e pode ajudar a diminuir, ou mesmo curar, doenças
como o câncer e a artrite reumatoide. "E o SUS demanda isso da
gente".
O papel de Bio-manguinhos como empresa pública é ampliar a oferta de produtos
com custo mais barato, para dar acesso à população como um todo. "E não
limitar em função dos gastos, o que acontece muito". Couto confirmou que o
déficit da balança comercial de biofármacos chegou a cerca de US$ 2 bilhões em
2015. "O déficit da saúde é muito grande", comentou.
Ele acredita, porém, que o novo centro vai contribuir para reduzir esse
déficit. Couto considera importante que haja no Brasil uma área de produção de
biofármacos completa porque, hoje, Bio-Manguinhos já produz a partir da
formulação do produto. "Formula, envasa, rotula, entrega. Agora, vamos ter
a cadeia completa, desde a produção da matéria-prima até a rotulagem e o
fornecimento do produto. Isso é um ganho incrível e com produtos já prontos
para entrar dentro dessa nova planta". É um grande ganho para o país,
destacou.
A escolha do nome do novo centro é uma homenagem a Henrique de Azevedo Penna,
médico pesquisador na área de desenvolvimento e produção da vacina contra a
febre amarela no Brasil. (Agência Brasil)